A Crise Hídrica Brasileira

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A Crise Hídrica Brasileira

Autora: Ana Paula Viana – Arquiteta

 

 A chuva demorou a cair, e quando aconteceu não foi suficiente. Era tarde demais. O ano foi 2014, e estávamos passando pela maior crise hídrica nacional dos últimos 80 anos. Imagem do Sistema Cantereira, com níveis de água cada vez mais baixos.

(Fonte Imagem: http://noticias.uol.com.br/album/2014/02/04/falta-de-chuvas-afeta-abastecimento-de-agua-em-sao-paulo.htm#fotoNav=19)

O início da crise, especialmente na maior Capital brasileira, São Paulo, aconteceu há aproximadamente dez anos atrás, em 2004. Foi nesse período que a Sabesp, empresa de abastecimento de água do município, renovou a autorização para administrar a água na cidade e identificou um problema em potencial. Aparentemente a estrutura dos reservatórios era insuficiente, já naquela época, para atender a demanda da população, e seria preciso realizar obras para aumentar a capacidade de armazenamento de água.  De acordo com os planos da Sabesp, a capital Paulista ficaria dependente do Sistema Cantareira, o que era bastante preocupante, pois se a água dos tanques do sistema acabasse, poderíamos viver algo muito caótico.

Foi exatamente o que aconteceu: Em julho de 2014, o volume útil da Cantareira, que atende 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo se esgotou. Com o esvaziamento do reservatório e as previsões pessimistas de falta de chuva, a cidade mergulhou na maior crise hídrica dos últimos anos.

A culpa da crise, se é que se pode falar em culpa, não é só da instabilidade das chuvas. O contingente populacional contribuiu, e muito, para a chegarmos a esta situação. Em 1960 a população paulistana era de 4,8 milhões de habitantes, esse contingente chegou a 11,8 milhões em 2013. O número não inclui as outras cidades da região metropolitana, apenas a Capital. A urbanização, que aumenta a poluição dos rios e dificulta o acesso à água potável, também é um fator que contribuiu para o caos, juntamente com a verticalização das cidades, a impermeabilização do solo, a falta de planejamento urbano, a sobrecarga do sistema de abastecimento e coleta, entre outros fatores.

Com o intuito de tentar solucionar a situação de escassez de água em São Paulo, em maio de 2014, a Sabesp decidiu usar pela primeira vez o volume morto, uma reserva de 400 bilhões de litros que fica abaixo das comportas que retiram água do Sistema Cantareira. Foram criadas obras para bombear mais de 180 bilhões de litros dessa reserva. O volume morto conseguiu estancar a crise por um período, até que em Janeiro de 2015, quando chegou-se a cogitar a possibilidade de um racionamento de água na cidade, as chuvas de verão finalmente aconteceram e deram uma trégua na complicada situação que estávamos vivendo.

Em paralelo com a crise hídrica brasileira existe a crise hídrica no Estado norte-americano da Califórnia. O Estado vive uma crise de falta de água parecida com a que vivemos no Brasil. Ao longo de 2013, choveu na Califórnia um terço da chuva que caiu em São Paulo no primeiro semestre de 2014. O governo americano declarou estado de emergência e foram adotadas medidas para preservar os recursos e evitar desperdício. A população passou a viver em um regime de economia de água parecido com o racionamento de energia que o Brasil passou no ano de 2001.

No entanto, as medidas mitigadoras adotadas nos Estados Unidos foram mais severas que as adotadas no Brasil. Quem fosse flagrado em situações de desperdício no Estado da Califórnia, como lavar calçada com mangueira ou deixar a irrigação do jardim ligada o dia todo, teria que pagar uma multa de 500 dólares. Partindo desse princípio, a empresa americana Valor Water Analytics desenvolveu um software que permite identificar e analisar diversos cenários do gerenciamento da rede hídrica e antecipar soluções. Uma delas é aplicar taxas mais altas a quem gasta mais água que a média

Em contra partida, o governo brasileiro adotou medidas menos agressivas, como um desconto de 30% na conta de água daquelas que economizassem pelo menos 20% de água. A Sabesp também diminuiu a pressão do abastecimento e começou uma campanha de conscientização com a população, com o intuito de suavizar os efeitos da crise hídrica.

Enquanto o Estado de São Paulo atravessa a pior estiagem de sua história, tecnologias e peças hidráulicas com foco no melhor desempenho e na sustentabilidade podem ajudar a gerenciar a crise e aproveitar melhor os recursos hídricos que nos restam. Alguns dispositivos bastante simples que auxiliam na economia de água estão se tornando cada vez mais conhecidos pela população Por um preço bastante acessível, o arejador é uma peça que ao ser encaixado no bico da torneira para misturar ar ao fluxo de água, aumenta a sensação de volume enquanto reduz a vazão de água. O grau de economia depende do modelo, mas os fabricantes falam em 10% a 50% de economia de água, ao se utilizar esse equipamento.

Outra solução que vem se tornando mais comum é a caixa d’água acoplada aos vasos sanitários, que liberam cerca de seis litros de água por descarga, enquanto os equipados com válvulas de parede gastam até vinte litros a cada disparo. Uma medida alternativa é adaptar a válvula de descarga convencional já existente para a versão com dois botões de acionamento: um para a evacuação de líquidos e outro para a descarga de sólidos. Esse tipo de produto, conhecido como “dual flush”, permite uma economia de cerca de 30% em relação aos modelos mais antigos e convencionais.

Por fim, um dos aprendizados que tiramos com a crise hídrica que começou há uma década atrás, e ainda persistirá, é que mesmo que chova mais do que o previsto, mesmo que a população compreenda a necessidade urgente de uma redução drástica no consumo de água, ainda assim será necessário que medidas sustentáveis sejam adotadas de um modo geral em todos os âmbitos da construção civil.

A recuperação do nível do Sistema Cantareira pode levar até dez anos para se recompor. Enquanto isso, a população vai continuar crescendo, e em algumas décadas, pode ser que nem os reservatórios atuais cheios consigam suprir a necessidade da população. Nesse sentido é preciso que nos conscientizemos que a mudança tem que partir do individual para o coletivo, e antes que cobremos uma atitude mais drástica dos nossos governantes, devemos nós começar a tomar algumas medidas que são perfeitamente ajustáveis ao nosso cotidiano e que irão contribuir de maneira gradativa e significativa para a recuperação dos nossos mananciais.

 

Exemplo de Adaptador de Válvula conhecida como “Dual Flash”, e Bacia Sanitária com Caixa Acoplada.

Arejadores de Torneira e Imagem Esquemática de como funciona o dispositivo.

(Fonte Imagem: http://projetosdearquitetura.blog.br/tag/economia-de-agua)

 

 

 

 

Arejadores de Torneira e Imagem Esquemática de como funciona o dispositivo.

Exemplo de Adaptador de Válvula conhecida como “Dual Flash”, e Bacia Sanitária com Caixa Acoplada.

(Fonte Imagem: http://corretanet.com.br/noticias072.htm)

 

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