AFINAL, QUAIS OS BENEFÍCIOS DA CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL PARA OS INCORPORADORES?

Atualmente, sabe-se que empreendimentos construídos com base nas premissas de sustentabilidade trazem diversos benefícios para os usuários finais, como por exemplo, a redução dos custos operacionais devido ao menor consumo de água e energia, facilidade nas atividades de conservação e manutenção, qualidade dos ambientes, melhoria nas condições de conforto (térmico, acústico, luminoso), entre outras. Porém, ainda existe uma resistência, no mercado da construção civil, em investir na implantação de uma certificação ambiental, pois não fica claro para os incorporadores quais serão os retornos obtidos com esse investimento inicial. Por isso, ainda existe um paradigma de que construir sustentável é mais caro.

De fato, é comum que exista um investimento inicial ao se decidir por aderir a uma certificação ambiental. Esse investimento varia em função do nível de desempenho almejado para a certificação e consequentemente, da implantação de soluções mais simples (como a utilização de bacias com duplo acionamento) a mais complexas (como a implantação de sistema reuso de águas cinzas). De acordo com o World Green Building Council (2013), estudos realizados com dados de 2000 a 2012, nos Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Singapura e Israel, indicam que, na maioria dos casos, os custos adicionados a uma construção sustentável, em relação à convencional, ficam em torno de 0 a 4% do custo total, porém, esse investimento é recuperado com a valorização do imóvel e maior atratividade no mercado.

De acordo com a revista portuguesa Público Imobiliário, de abril de 2020, um estudo realizado em Lisboa, em 2019, mostrou que os compradores estão dispostos a pagar até 40% em um edifício com desempenho energético elevado (níveis A+ e B+).

Já um artigo publicado pela construtora Horizonte, de Minas Gerais, em 2018, indica que a valorização de imóveis sustentáveis chega a 30%. Além disso, são mais atraentes no mercado imobiliário, pois são mais valorizados por terem custos operacionais reduzidos (GARCIA, 2018).

Outros estudos realizados ao redor do mundo também confirmam essa valorização patrimonial em empreendimentos sustentáveis com alguma certificação que comprove e valide as soluções adotadas:

Na Califórnia, residências certificadas são transacionadas por 3,7% a mais do que as convencionais e em regiões com climas mais quentes a certificação tem mais valor, devido aos altos custos com ar condicionado (KAHN; KOK, 2013);

Na Europa, no início da implantação dos processos de Certificação, imóveis com etiqueta de eficiência energética eram comercializadas com valores 4% maiores (BROUNEN; KOK, 2011). Hoje, essa valorização é ainda maior;

Em Singapura, a certificação agrega ente 5,47% e 27,74%, em função do nível de certificação alcançado (ADDAE-DAPAAH; CHIEH, 2011);

Na Austrália, a certificação agrega 13% no valor para menores níveis de certificação e 21% para níveis elevados de certificação (NEWELL, 2011);

Cada vez mais, observa-se que a sustentabilidade tem ganhado importância na escolha dos consumidores, de forma que produtos sustentáveis são mais atrativos. De acordo com Kats (2010), foi realizada uma pesquisa nos Estados Unidos, com 1.000 proprietários de residências, e quando questionados se estão dispostos a pagar mais por empreendimentos que possibilitam economia de energia, benefícios à saúde e são bons para o meio ambiente, as respostas foram:

Gráfico 1: Porcentagem de respondentes que estariam dispostos a gastar mais por sua residência caso economize energia (A), forneça benefícios à saúde (B), seja boa para o meio ambiente (C)

(A) Economizar energia = 75%

(B) Fornecer benefícios à saúde = 50%

(C) Ser bom para o meio ambiente = 46%

Fonte: Kats (2010).

Conforme pode ser verificado no Gráfico 1 apresentado, 75% dos entrevistados responderam que estão dispostos a investir em empreendimento que ao longo da fase de uso e operação irá economizar energia; 50% quando o empreendimento fornecer benefícios à saúde e 46% quando o empreendimento for bom para o meio ambiente. É importante destacar que empreendimentos com certificação ambiental englobam esses três critérios, pois busca-se a minimização dos impactos ambientais e da extração de recursos naturais, mas também existe um foco em melhorar a qualidade do ambiente interno, e consequentemente fornecer benefícios à saúde, por exemplo, a partir da utilização de iluminação e ventilação naturais satisfatórias e da utilização de revestimentos que sejam adequados ao tipo de uso do ambiente e não causem problemas de saúde aos ocupantes.

Uma outra pesquisa realizada pela McGraw Hill, em 2012, identificou que 61% das construtoras norte-americanas consideram que o consumidor está disposto a pagar um valor adicional por imóveis sustentáveis. Desse percentual, 5% entendem que os seus consumidores pagariam um adicional maior que 10% no valor do imóvel, 16% entendem que os clientes pagariam de 5 a 10%, e 40% entendem que os clientes pagariam de 1 a 4% a mais. Apenas 30% das construtoras responderam que não acreditam que os seus clientes estão dispostos a pagar mais por um empreendimento sustentável, conforme apresentado no Gráfico 2 abaixo:

Gráfico 2 – Valor adicional que os compradores estão dispostos a pagar por imóveis sustentáveis

Fonte: McGraw Hill (2012).

Uma sondagem realizada pelo Instituto Akatu, em 2014, indica que 89% dos brasileiros entrevistados preferem empresas que ofereçam produtos com selo de proteção ambiental, o que demonstra que a consciência ambiental da população influencia na escolha no momento da compra, conforme podemos observar na Figura 1.

Figura 1 – Características que os consumidores consideram importantes no momento de decidir por um produto

Fonte: Instituto Akatu (2014)

Outro benefício para os incorporadores é que projetos sustentáveis vendem e alugam mais rapidamente e mantem melhor os locatários, uma vez que combinam melhorias na qualidade de vida com menores custos operacionais. Quando nos referimos a ambientes corporativos, o melhor conforto visual, térmico e acústico cria ainda um ambiente de baixo stress e alta performance, trazendo ganhos na produtividade dos funcionários. Conforme estudos realizados por Loftness et al. (2003), esses ganhos são bem valiosos. São eles:

  • Aumento de 3% quando se tem controle de temperatura individualmente;
  • Aumento de 11% quando se tem ventilação natural e baixo nível de poluentes;
  • Aumento de 23% quando se tem iluminação artificial adequada;
  • Aumento de 18% quando se tem acesso ao ambiente natural, iluminação natural, controle individual das janelas.

Ainda com relação aos benefícios em produtividade e satisfação de funcionários que trabalham em edifícios certificados, uma outra pesquisa realizada na sede da American Society of Interior Designers – ASID, em Washington DC, ratifica os valores apresentados acima. Após aderir a uma certificação voltada para saúde e bem-estar dos usuários, no primeiro ano de utilização, notou-se uma melhoria de 16% na produtividade dos funcionários. Houve redução nos índices de absenteísmo e presenteísmo e aumento dos índices de desempenho, saúde mental e física. Além disso, a satisfação dos funcionários aumentou em mais de 100%, devido às soluções de engenharia tomadas para melhorar a qualidade do ambiente interno (ARAÚJO, 2018).

Não é de conhecimento geral, mas já existem diversos municípios no Brasil que adotam o Imposto Predial e Territorial Urbano Verde (IPTU Verde), um incentivo que fornece descontos no IPTU para empreendimentos sustentáveis. Normalmente edificações com certificações ambientais são as que conseguem melhores descontos nesse imposto, variando ainda de acordo com o nível alcançado na certificação, o que pode também ser utilizado como um diferencial no momento das vendas.

Diante das informações apresentadas, percebe-se que a escolha por construir empreendimentos sustentáveis é benéfica para todas as partes envolvidas. Os usuários finais são beneficiados com a redução dos custos operacionais, melhor qualidade de vida e garantia de conforto e bem-estar nos ambientes em que ocupam. Os empreendedores e incorporadores, por sua vez, apesar do investimento inicial, têm sua marca fortalecida por demonstrarem uma preocupação com os impactos causados ao meio ambiente em uma sociedade que cada vez mais leva em conta esse critério para escolha de um empreendimento no momento da compra. Nesse sentido, existe uma valorização patrimonial e o imóvel possui diferenciais de marketing que podem ser utilizados, tornando-o mais atraente no mercado imobiliário. Tudo isso, somado à satisfação de construir um empreendimento de qualidade, economicamente viável e ecologicamente correto!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADDAE-DAPAAH, K.; CHIEH, S. Green mark certification: does the market understand?: The Journal of Sustainable Real Estate, San Diego, v. 3. n. 1, 2011.

ARAÚJO, G. P. F. Certificação WELL: influência na produtividade, saúde e bem-estar em ambientes corporativos sob a ótica da qualidade do ar interior. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) – Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, 2018.

BROUNEN, D.; KOK, N. On the economics of energy efficiency in the housing market. Journal of Environmental Economics and Management, Rotterdam, v. 62, 2011. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/227418701_On_the_Economics_of_Energy_Labels_in_the_Housing_Market. Acesso em: 8 jul. 2020.

GARCIA, J. Construções sustentáveis: como impactam na valorização de um imóvel. 2018. Disponível em: https://horizonteconstrutora.com/construcoes-sustentaveis-como-impactam-na-valorizacao-de-um-imovel/. Acesso em: 8 jul. 2020.

INSTITUTO AKATU. Pesquisa Akatu: brasileiro quer produtos com baixo gasto de energia. 2014. Disponível em: https://www.akatu.org.br/noticia/pesquisa-akatu-brasileiro-quer-baixo-gasto-de-energia/. Acesso em: 8 jul. 2020.

KAHN, M.; KOK, N. The capitalization of green labels in the California residential housing market. Los Angeles: University of California, 2013.

KATS, G. Greening our built world: costs, benefits, and strategies. Washington DC: Island Press, 2010.

LOFTNESS, V.; HARTKOPF, V.; GURTEKIN, B.; HANSEN, D.; HITCHCOCK, R. Linking energy to health and productivity in the built environment: evaluating the cost-Benefits of high performance building and community design for sustainability, health and productivity. Center for Building Performance and Diagnostics, Pittsburgh: Carnegie Mellon. 2003. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/6b8a/3534886c88f5f742681ddaa22cb61a44bfe7.pdf?_ga=2.55144299.1525118038.1595426633-1431455176.1595426633. Acesso em: 8 jul. 2020.

MCGRAW-HILL CONSTRUCTION. Smart market report. New and remodeled green homes: transforming the residential marketplace. Bedford: MacGraw-Hill Construction, 2012.

NEWELL, G.; MACFARLANE, J.; KOK, N. Building better returns: a study of the financial performance of green office buildings in Australia. University of Western Sydney and University of Maastricht. 2011. Disponível em: https://www.buildingrating.org/document/building-better-returns-study-financial-performance-green-office-buildings-australia. Acesso em: 8 jul. 2020.

 

Autora: Taiane Souza

Tecnóloga em Construção Civil – Edifícios pela Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC -SP) onde foi monitora nas disciplinas Eletricidade Aplicada I e II no período de julho a dezembro de 2014. Engenharia Civil pela Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP (2018). Profissional Acreditado GBC Brasil Casa e Condomínio. Edge Expert, pelo International Finance Corporation.

Últimos Posts