Há alguns anos, o conceito de sustentabilidade, assim como o de edifícios sustentáveis, tem sido difundido no Brasil e no mundo. Quando falamos sobre empreendimentos sustentáveis, eles são automaticamente relacionados com seus benefícios para o meio ambiente como, por exemplo, a redução no consumo de água, a redução dos seus impactos ambientais e a sua eficiência energética. Esses cuidados são realmente essenciais e fazem parte dos requisitos básicos das certificações ambientais de empreendimentos mais conhecidas.
Porém, o conceito de uma edificação sustentável engloba outras questões igualmente importantes relacionadas ao conforto, saúde e bem-estar dos usuários. Um indivíduo passa a maior parte do seu dia dentro das edificações, seja em casa, no trabalho, na escola, e esses ambientes influenciam de forma muito significativa na qualidade de vida dos seus usuários. Especialmente com o atual cenário de pandemia, com a necessidade de permanecermos em casa, percebe-se a importância de serem projetadas residências que forneçam conforto, saúde e bem-estar para os moradores.
Segundo a OMS, é estimado que pelo menos 30% dos edifícios do mundo são acometidos pela “Síndrome do Edifício Doente”, que é um conjunto de doenças que acometem os usuários devido a baixa qualidade do ar dentro destes edifícios, causando sintomas como, por exemplo, dor de cabeça, alergias, náusea, insônia, fadiga, asma, irritação dos olhos, entre outros.
Dessa forma, o ato de permanecer em casa pode ser muito prejudicial à saúde, principalmente quando colocamos em pauta os edifícios populares, nem sempre confortáveis e que são a realidade de muitos brasileiros.
Se tratando de empreendimentos não residenciais, essas condições de saúde, conforto e bem-estar são ainda diretamente ligadas ao desempenho econômico, uma vez que influenciam na produtividade dos funcionários, no absenteísmo e na qualidade dos trabalhos desenvolvidos.
Dentro deste contexto, as certificações ambientais podem auxiliar na concepção e execução de produtos que garantam conforto, saúde e bem-estar, uma vez que, no geral, as principais certificações englobam requisitos voltados para esses temas.
Na certificação AQUA-HQE, por exemplo, são abordados temas como qualidade do ar, qualidade da água, conforto acústico, conforto térmico, conforto visual e conforto olfativo. Existem ainda, algumas certificações que são voltadas especificamente para essas questões de saúde, conforto e bem-estar, como as certificações WELL, FITWELL, A2S e a certificação GBC Life, do GBC Brasil.
Algumas soluções simples e que melhoram as condições dentro das edificações são o fornecimento de acesso a vistas de qualidade e iluminação natural; áreas adequadas de ventilação natural e que garantam boa taxa de renovação do ar; o cuidado com a temperatura interna dos ambientes (onde as simulações computacionais são grandes aliadas para definição das melhores soluções); um bom projeto luminotécnico de forma a fornecer níveis suficientes de iluminação artificial sem causar ofuscamento; o tratamento acústico dos ambientes, de acordo com o uso previsto para aquele espaço; a adoção de revestimentos adequados e soluções para garantir a limpeza e as condições sanitárias dos ambientes; entre outras.
A sustentabilidade é então um conceito abrangente, baseado em três pilares: social, econômico e ambiental, mas tendo como centro o indivíduo e a qualidade de vida. Desde habitações de interesse social até edifícios de alto padrão, é nossa missão, como profissionais da área da construção civil, fornecer moradias e ambientes de qualidade para todos. Neste sentido, as certificações podem e devem ser grandes aliadas pois apresentam os critérios a serem estudados de maneira conjunta pelos consultores, projetistas e empreendedores.